Quem aprecia a boa gastronomia também costuma gostar de vinhos especiais, pois uma paixão acaba puxando a outra. Mas, como nem todo consumidor conhece as particularidades dessa bebida, não é difícil se atrapalhar na hora de combinar um prato ao vinho ideal para a ocasião.
Felizmente, muitos restaurantes têm profissionais qualificados para ajudar nessa harmonização, como os sommeliers e curadores. São eles que cuidam das bebidas desses estabelecimentos e ajudam os clientes a fazer sempre a melhor escolha.
Esse é o caso do prestigiado Nomo, restaurante que fica na zona Oeste de São Paulo. Ele foi incluído no Guia Michelin, na categoria Bib Gourmand, selo que reconhece casas que oferecem comida de boa qualidade a preços acessíveis.
Comandado por Danilo Ancete e pelo chef Nando Carneiro, o local também conta com o talento de Patrícia Werneck, responsável pelo salão e curadoria de vinhos.
Ela, que também é barista e sócia-proprietária do restaurante, estudou com grandes nomes do mundo do vinho, como Gabriel Raele, Andrea Machado e Irma Ferreira, especializando-se, inclusive, nos biodinâmicos, um tipo de vinho feito com uvas cultivadas com técnicas especiais, em pequenas vinícolas ao redor do mundo.
Além disso, para se manter sempre atualizada, a empresária costuma viajar pelo Brasil e exterior, para explorar o universo dos vinhos, cafés e da alta gastronomia.
“Minha trajetória no [mundo do] vinho começou no universo dos cafés. Foram quase dez anos de garimpo, aprendizado e uma vontade incontrolável de colocar algo bom para rodar no mundo. Olhando para trás, vejo que esse aprendizado me preparou para o meu trabalho com os vinhos.” (Patrícia Werneck).

Patrícia Werneck é curadora de vinhos do retaurante Nomo, do qual também é sócia. Foto: Divulgação
A mudança dos cafés para os vinhos, conta Patrícia, chegou de forma inesperada. “A transição veio quando o Nando, meu parceiro, abriu um bar de vinhos. Foi como cair de paraquedas na Disney, só que sem as orelhas do Mickey. Lá, em vez disso, a galera usava taças de cristal. De repente, estava cercada pelas mentes mais influentes da cena, mergulhada nos estudos, garimpando rótulos e produtores”.
Hoje, com carreira consolidada no mundo da enologia, ela prioriza a liberdade. “Se eu provar algo incrível, já coloco na mesa. Essa é a grande beleza da curadoria: a liberdade de trazer o melhor, no momento certo, do jeito certo, ou melhor, do jeito que me empolga. Para mim, comer e beber não são meros atos biológicos, são expressões culturais profundas”, afirma.
Provar vinhos de todos os cantos do mundo não a impede de eleger seus favoritos, apesar de essa ser uma tarefa desafiadora. Além disso, ela conta que sabe bem o que funciona para cada momento e, às vezes, recorre àqueles que sempre conquistam.
“Sou apaixonada pelos brancos complexos, cremosos, estruturados, com aquele fundinho tostado que dá profundidade e camadas ao vinho. Os Chardonnays da Borgonha são tudo para mim. É clichê, mas não tem jeito, eles entregam. Já quanto aos tintos, gosto dos jovens e leves, mas que sejam suculentos, daqueles que fazem a gente querer mastigar o líquido enquanto toma infinitos goles.”
Frequentemente, quando se fala em vinhos ou espumantes, a mente é levada para Itália, França, Argentina ou demais países famosos por sua produção, mas Patrícia não se limita aos importados: tem seus ‘queridinhos’ entre os brasileiros, e diz preferir os que deixam sentir o aroma da qualidade de longe.
“Os espumantes do Sul do Brasil, especialmente os rótulos da Cave Geisse [do interior do Rio Grande do Sul], entram nesse grupo. Temos um terroir perfeito para produzir espumantes nature, que são meus favoritos. É impressionante o nível de qualidade que atingimos. Não foi à toa que o Brasil já se firmou como uma potência, ficando atrás apenas de Champagne [França] e Cava [Espanha] na corrida mundial”.
Ela diz que a profissão do especialista em vinhos está diretamente ligada ao aspecto sensorial e à identidade do profissional, já que a cultura e os ambientes que ele frequenta moldam seu paladar, que também é influenciado pelos sabores que ficam na memória de forma afetiva.
“Mesmo quem se julga indiferente à cultura está, sem perceber, se conectando a ela ao degustar um grande vinho francês. Ao provar uma bela feijoada ou um prato de massa, não apenas consumimos um alimento, mas nos tornamos parte daquela história, daquela terra, daquela gente.”
Em seu restaurante, Patricia oferece mais do que uma experiência de sabores: dá verdadeiras aulas sobre vinhos e abre janelas para o mundo, oferecendo ao cliente a oportunidade de enriquecer a alma com experiências olfativas e novidades para o paladar.
“Esse trabalho é um convite para ouvir o outro, seja por palavras ou através da essência que um prato ou vinho podem carregar. O que se come ou bebe em um país reflete sua evolução e identidade. Um vinho bem-feito e a cozinha que respeita suas raízes e, ao mesmo tempo se reinventa, define como um povo se apresenta ao mundo”, completa.
No cenário da gastronomia, que está mais popular, podendo ser visto em programas de TV e em novos estilos de restaurantes, ainda há temas a serem discutidos, como a presença feminina em cargos de chefia, diz.
“Pela primeira vez na história, não temos apenas uma grande chef ou uma sommelière de destaque, temos várias. Mulheres potentes, jogando luz sobre um cenário que antes parecia dominado por uma única narrativa. Um cenário mais igualitário não significa apenas abrir portas, mas construir um ambiente onde a troca é genuína, com o talento, esforço e competência reconhecidos sem filtros ou privilégios”, enfatiza Patrícia.
“Me sinto realizada e muito feliz. Apesar dos desafios, tenho clientes incríveis, que confiam no meu trabalho, e pessoas maravilhosas caminhando ao meu lado nessa jornada. Conquistar reconhecimento tão rápido é algo maravilhoso, mas ser ‘especialista’ é um caminho sem linha de chegada – sempre há mais para aprender, provar, questionar. O vinho é infinito, e isso é o que o torna tão fascinante.”
Questionada sobre os caminhos que as parreiras de uvas já abriram em sua vida, Patrícia prefere pensar mais sobre o futuro: “Meu sonho é dar a volta ao mundo, provando direto da fonte, nos cantos mais remotos, onde os produtores fazem vinhos incríveis, longe dos holofotes”, finaliza.
Nomo
Endereço: Rua Harmonia, 815, Sumarezinho
Horário de Funcionamento: quartas e quintas-feiras, das 19h às 23h; sextas e sábados, das 12h às 16h e das 19h às 23h
Telefone: (31) 99121-6648
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