O uso de medicamentos injetáveis com o objetivo de emagrecer é uma escolha cada vez mais popular entre os brasileiros: o consumo de remédios como Ozempic® (semaglutida), Wegovy® (semaglutida) e Mounjaro® (tirzepatida), mais conhecidos como ‘canetas emagrecedoras’, explodiu aqui no país e no mundo, nos últimos anos.
Inicialmente, esses produtos foram desenvolvidos para o tratamento de diabetes tipo 2, mas também mostraram bons resultados como auxiliares da perda de peso.
Por isso, passaram a ser indicados e prescritos para o tratamento da obesidade. Mais recentemente, viraram objeto de desejo de quem quer emagrecer rapidamente e sem grandes esforços, o que é uma promessa tentadora.
No entanto, é preciso observar também o alerta: o uso desses fármacos pode vir acompanhado de um efeito colateral silencioso e perigoso, a perda de massa muscular.
A cultura do ‘corpo ideal’ sempre esteve presente na nossa sociedade, mas agora vive um novo capítulo: o da medicalização estética.
Em vez de mudanças de hábito, populariza-se a ideia de que a aparência fit pode ser conquistada com a ida a uma farmácia.
A comodidade parece vencer a constância. Porém, quando o emagrecimento acontece apenas por meio da medicação, o corpo não escolhe o que vai perder, gordura ou músculo. E isso muda tudo.
Estudos recentes mostram que até 40% do peso perdido com esses produtos pode ser massa muscular. Isso significa:
- Metabolismo mais lento;
- Risco maior de efeito sanfona;
- Fragilidade física;
- Aumento de quedas e lesões;
- Envelhecimento precoce.
Ou seja: emagrecer não é sinônimo de ficar mais saudável.
O treinamento de força é a principal ferramenta para preservar (ou ganhar) massa muscular durante a perda de peso, seja com ou sem medicação.
Ele atua diretamente na prevenção da sarcopenia, melhora a mobilidade, protege articulações, regula hormônios e mantém o metabolismo ativo.
Além disso, a musculação é considerada uma ‘poupança para o envelhecimento’: quanto mais massa muscular você constrói ao longo da vida, maior será sua autonomia na terceira idade.
O corpo precisa de estímulo, não só de remédio. Medicamentos podem ser aliados em casos específicos, principalmente em quadros de obesidade com comorbidades, mas nunca devem substituir o movimento, alimentação adequada e acompanhamento profissional.
A grande questão é: estamos tratando doenças ou silenciando sintomas? Estamos buscando saúde ou apenas diminuindo os números na balança?
Sem atalhos
A combinação perfeita e sem segredos é emagrecimento + fortalecimento! O consenso entre médicos e profissionais de educação física é claro:
- Medicamentos podem ajudar;
- Treinamento de força é indispensável;
- Estilo de vida ainda é o fator mais poderoso para a sustentabilidade dos resultados.
O boom no uso de medicamentos para emagrecimento revela muito sobre a pressa da sociedade e a pressão estética vigente.
No entanto, sem musculação, o processo pode levar à troca de gordura por fragilidade.
Emagrecer é mais do que reduzir medidas: é preservar funcionalidade, vitalidade e autonomia. E isso nenhuma injeção entrega sozinha.
Remédios podem acelerar a perda de peso, mas é o músculo que garante a qualidade de vida.
Referência: NEELAND, Ian J.; LINGE, Jennifer; BIRKENFELD, Andreas L.. Changes in lean body mass with glucagon-like peptide-1-based therapies and mitigation strategies. In: "Diabetes, Obesity and Metabolism" (Advances in Nutritional Science & Dietary Interventions For Optimizing Weight Loss And Glycaemic Control: Hot Topics & Updates For Clinicians). John Wiley & Sons Ltd., 2024 (september), vol. 26, issue S4, pages 16-27. Disponível em: <https://dom-pubs.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/dom.15728>. Acesso em 12 out. 2025, às 18h30.
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