O cimento, o aço e os caminhões de obras foram, durante décadas, símbolos de um universo profissional predominantemente masculino: a construção civil.
Incorporadoras e construtoras sempre estiveram, na imaginação popular e nos quadros executivos, atreladas à figura do homem. Mas esse panorama está mudando, graças a uma nova geração de empreendedoras e líderes femininas.
Elas não apenas entraram neste mercado tradicional, mas também estão redefinindo as regras do jogo, com uma combinação poderosa de visão estratégica, foco em inovação e uma gestão mais humanizada, provando que o talento e a capacidade de liderança não têm gênero.
Esse novo cenário desafia estereótipos, impulsiona a diversidade e dá uma perspectiva diferenciada a um setor crucial para o desenvolvimento do país.
E uma das mulheres que participa dessa mudança e inspira a nova geração é Bianca Setin, à frente da vice-presidência da Setin Incorporadora.
Com 26 anos de trajetória profissional na área, ela alia sensibilidade e visão estratégica para conduzir uma das incorporadoras mais tradicionais de São Paulo, sem abrir mão do papel de mãe, esposa e mentora de outras mulheres.
A seguir, conheça um pouco da história e dos desafios enfrentados pela executiva, que bateu um papo com o Viva a Cidade:

Bianca Setin: visão estratégica em uma incorporadora tradicional. | Foto: Paulo Brenta/Divulgação
Filha de um empreendedor que decidiu construir casas geminadas na zona Norte de São Paulo, Bianca nasceu em uma família humilde e cresceu entre pranchetas e canteiros de obra.
Desde muito cedo, participou ativamente do crescimento da empresa, criada há 46 anos por seu pai, Antonio Setin.
Aos 14 anos, iniciou sua jornada profissional na incorporadora. Aos 16, foi emancipada começou a trabalhar ‘oficialmente’.
De lá pra cá, passou por todas as áreas da companhia, do almoxarifado ao setor de projetos, até assumir cargos de gestão.
“Comecei fazendo de tudo: fui office-girl, depois almoxarifado, depois obra. Passei por todas as áreas, o que me deu uma visão completa do negócio e uma empatia enorme, com muito respeito a cada função dentro da empresa”, conta.
Mesmo sendo herdeira da empresa, Bianca deu duro e conseguiu construir sua própria identidade no setor. Hoje, é uma das principais vozes femininas da incorporação paulistana.
“Sou mãe, esposa, filha e executiva. É um malabarismo diário, mas é o que me completa”, afirma.
O ambiente predominantemente masculino da construção civil não intimidou Bianca, mas a levou a refletir sobre o papel da mulher na liderança.
“Durante muito tempo, para ser respeitada, precisei endurecer. A gente acaba se masculinizando sem perceber. Hoje, busco equilibrar firmeza com sensibilidade. A delicadeza e a escuta são nossas maiores forças”, diz a executiva. formada pelo programa OPM (Owner/President Management), da Harvard Business School.
Ela também fez o curso de Conselheiros de Administração do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), o que lhe deu repertório para liderar com base na experiência e na busca constante por inovação e aprimoramento.
Maternidade e rotina com propósito
Casada há 21 anos e mãe de dois filhos, Bianca conta que conciliou maternidade e trabalho de forma intensa, “na raça”, como ela mesma define.
“Trabalhei até a véspera de ter meu primeiro filho e o levava comigo para a obra. Tive uma rede de apoio essencial, mas aprendi que o mais importante é a qualidade do tempo com os filhos, não a quantidade”, relembra.
Hoje, começa o dia às 5h, prepara o café da manhã da família e pratica yoga, musculação e spinning.
“O exercício é meu combustível mental. A rotina matinal me dá foco e clareza para lidar com o ritmo da empresa”, diz. O silêncio, segundo ela, é ferramenta de equilíbrio: “Aprendi a respeitar o silêncio e a intuição. É ali que encontro minhas respostas”.
Entre as conquistas profissionais, a gestora destaca a criação do conceito “Alma Brasileira”, que marca uma ‘virada de chave’ na Setin Incorporadora.
O projeto nasceu do desejo de unir design, sustentabilidade, arte e cultura nacional.
“O mercado imobiliário sempre foi muito racional, mas casa é emoção. Quisemos resgatar a emoção do morar”, explica.
Os empreendimentos Ibiatã, no Paraíso, e Teçá, no Itaim Bibi, são os primeiros da linha, e contam com curadoria de arte, trilha sonora, identidade olfativa e certificações ambientais, como EDGE, AQUA e Fitwell.
“Cada projeto tem alma própria. A ideia é que o cliente entre e sinta a brasilidade — o aconchego, a cor, o cheiro”, resume.
Liderança e futuro
Bianca acredita no potencial de renovação urbana de São Paulo, mesmo com os desafios regulatórios e de formação de terrenos.
“O mercado imobiliário é cíclico. É preciso resiliência, inovação e fluxo de caixa saudável. Vejo um cenário mais favorável para 2026 e 2027, com a retomada da classe média e a queda dos juros”, avalia.
Ao lado do pai, com quem compartilha decisões estratégicas, ela busca unir experiência e modernidade: “Ele tem o dobro da minha vivência. Eu trago o olhar de inovação e design. Essa soma é o que sustenta o futuro da empresa”.
Além disso, ela é mentora voluntária nos programas “EY Entrepreneurial Winning Women™” e “Women Beyond Business”, nos quais compartilha experiências e estimula outras mulheres a conquistarem espaços de decisão.
“A liderança feminina precisa ser colaborativa, empática e baseada na escuta. O caminho não é fácil, mas é possível — e vale a pena quando é o que o coração quer”, afirma.
Quando fala em legado, Bianca é direta: “Quero deixar uma Setin que continue construindo com propósito — não só prédios, mas histórias. Que valorize pessoas, detalhes e o impacto positivo que geramos na cidade”.
E às mulheres que almejam cargos de liderança, deixa um conselho que é quase um mantra: “Reconheça o que ama e assuma isso sem culpa. Busque autoconhecimento, siga sua intuição e tenha clareza sobre o que é prioridade. Quando a gente lidera com o coração, tudo faz sentido”.
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