Elas são animadas, pulsam no ritmo da música e prometem queimar centenas de calorias em menos de uma hora.
As aulas de jump, aquelas realizadas sobre mini trampolins, são populares em academias por todo o país. Mas, por ser um treino cheio de impacto e energia, não é tão inofensivo quanto parece, especialmente para as mulheres.
Embora tragam benefícios importantes, como a melhora do condicionamento cardiovascular, aumento da resistência e alto gasto calórico, especialistas em saúde e educação física alertam: o jump não é indicado para todas, principalmente para mulheres com histórico de disfunções pélvicas.
O que há por trás dos pulos?
Durante uma aula de jump, o impacto repetitivo, ainda que minimizado pelo trampolim, exige estabilidade do core (o conjunto de músculos da região central do corpo, que inclui abdômen, lombar, pelve e quadril), força e controle de musculatura profunda, principalmente na região do assoalho pélvico.
Essa parte do corpo é particularmente sensível nas mulheres, já que sofre os efeitos da gravidez, do parto vaginal, de alterações hormonais e até da menopausa, que podem comprometer a força e a sustentação pélvica.
Em algumas situações, o impacto do jump pode agravar quadros de incontinência urinária, provocar desconfortos lombares e, em casos mais sérios, contribuir para o deslocamento (descida) de órgãos pélvicos, o que é conhecido como prolapso.
A atenção precisa ser redobrada se a mulher se enquadrar em algum dos grupos abaixo:
● Pós-parto recente ou com múltiplas gestações;
● Histórico de incontinência urinária ou perda involuntária ao tossir, rir ou espirrar;
● Diagnóstico ou suspeita de diástase abdominal;
● Mulheres na menopausa, com perda de colágeno e enfraquecimento muscular profundo.
Para essas alunas, o jump pode deixar de ser um treino divertido e se transformar em um risco invisível.
Por isso, é preciso evitar ou adaptar a prática, e o papel do profissional é abordar a consciência corporal.
Consciência e limites
Infelizmente, ainda é comum encontrar aulas de jump lotadas, sem que haja uma avaliação prévia das alunas, e com estímulos padronizados, que nivelam todos que estão no ambiente.
Em nome da queima calórica, muitas mulheres pulam sem controle e sem consciência do que estão ativando.
A responsabilidade, nesse caso, não é apenas da aluna. Cabe ao profissional de educação física avaliar, orientar e adaptar o treino, além de trabalhar a musculatura estabilizadora e o fortalecimento pélvico previamente.
Mas nem tudo está perdido: o jump pode sim ser uma atividade positiva, quando bem orientado.
A modalidade pode, sim, render bons resultados, como a melhora da coordenação, da circulação sanguínea, da resistência e do humor, além de ser uma atividade divertida e contagiante.
O segredo está em saber para quem, quando e como aplicar.
As aulas de jump continuam sendo uma ferramenta valiosa no universo fitness, mas precisam ser aplicadas com critério. Especialmente para o público feminino, é preciso olhar para ‘dentro’ do quadril, avaliar o centro de força e a história corporal de cada uma.
A saúde do assoalho pélvico ainda é um tabu silencioso nas academias.
Informação, avaliação e adaptação são as palavras-chave para que o jump, assim como tantas outras modalidades, continue sendo um aliado da saúde, e não vilão.
Referências:
ARAÚJO, Rafael André de; FRAGA, Danielle Siqueira de Melo et al.. Efeito na pressão arterial em mulheres praticantes do jump. In: Lecturas: Educación Física y Deportes (revista digital). Buenos Aires, año 15, nº 141, 2010 (outubro). Disponível em: <https://www.efdeportes.com/efd141/pressao-arterial-em-mulheres-praticantes-do-jump.htm>. Acesso em: 05 ago. 2025.
SILVA, Clair Campos da; LIMA, Cristiane de; AGOSTINI, Sandra Maria. Comportamento das variáveis fisiológicas em mulheres submetidas a 12 semanas de treinamento do programa Power Jump. In: Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício (RBPFEX). v. 2 n. 12, 2008. Disponível em: <https://www.rbpfex.com.br/index.php/rbpfex/article/view/125>. Acesso em: 05 ago. 2025.
ALMEIDA, Priscilla Pereira de; MACHADO, Lívia Raquel Gomes. A prevalência de incontinência urinária em mulheres praticantes de jump. In: Fisioterapia em Movimento. Curitiba, v. 25, n. 1, 2012 (março). Disponível em: <https://periodicos.pucpr.br/fisio/article/view/21215>. Acesso em: 05 ago. 2025.
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