A relação das crianças e adolescentes com a vida digital é um dos assuntos tratados em “Diário de um Banana: Festa Insana” (VR Editora), 20º livro da série de sucesso entre o público infanto-juvenil.
Trata-se da versão em português de “Diary of a Wimpy Kid: Partypooper” (Puffin, 2025), lançada neste mês no Brasil.
Traduzidas para 62 idiomas e distribuídas em 74 países, as aventuras escritas por Jeff Kinney já somam mais de 275 milhões de exemplares vendidos ao redor do mundo. Só no Brasil, a coleção ultrapassa a marca de 14,3 milhões de cópias comercializadas.
No novo volume, o protagonista da série, Greg Heffley, está prestes a fazer aniversário. Ele tem a impressão de que sua família esqueceu da data, já que todos decidem participar de um concurso de tortas, na igreja.
Decidido a compensar o fiasco, o garoto resolve planejar a comemoração, mas tudo vira uma confusão. Isso mostra que o título do livro, “Festa Insana”, não poderia ser mais adequado.

Ilustração de “Diário de um Banana: Festa Insana”. Fonte: Jeff Kinney / Divulgação
A situação fica ainda mais complicada depois que um vídeo do aniversário frustrado de Greg viraliza nas redes sociais.
Assim, a trama ecoa acontecimentos comuns na vida digital, na qual crianças e adolescentes estão cada vez mais imersos.
A partir desse enredo, o autor também aborda temas como o medo de crescer, a vontade de ser notado pelos colegas e a decepção de quando os planos não dão certo.
Livros e redes sociais
Em entrevista ao Viva a Cidade, Kinney explicou que, no novo livro, trata das redes sociais com cautela.
“Se eu quisesse criar um adolescente realista, eu colocaria um celular no centro de sua vida. Mas isso faria dele um protagonista muito entediante. Às vezes, eu sinto uma necessidade de reconhecer aspectos do mundo ao meu redor, mas eu tento evitar isso de modo geral.”
Segundo o autor, o uso das redes sociais também afetou a recepção dos livros e a maneira como as crianças se relacionam com o hábito da leitura.
Kinney diz que, atualmente, as crianças compartilham memes e os trechos preferidos dos livros, o que não era uma possibilidade em 2007, quando a série estava começando.
Ao mesmo tempo, afirma ser evidente que as crianças estejam lendo menos:
“Vivemos sob uma economia da atenção e, enquanto escritores, precisamos contar histórias que sejam envolventes e que tirem as crianças de seus celulares e telas.”
Infância inspiradora
O primeiro livro da série “Diário de um Banana” foi publicado em 2007 e, desde a estreia, foi um sucesso entre crianças e adolescentes do mundo inteiro.
Quase 20 anos depois, Kinney conta que se sente feliz pelo universo da infância ser ‘grande’: “Sempre há algo a ser explorado”, comenta.
“Mas tem ficado mais difícil com o passar do tempo – eu não gosto de me repetir. Infelizmente, não há crianças em minha vida que possam inspirar novos livros para a série. Eu preciso esperar que meus filhos, que estão com vinte-e-poucos, tenham seus próprios filhos!”, revela o escritor de 54 anos.

Capa do livro “Diário de um Banana: Festa Insana”. Imagem: Divulgação
Ele acredita que a acessibilidade e o humor de seus livros ajudaram tanto a fazer com que a série ficasse conhecida, quanto para manter as crianças interessadas em “Diário de um Banana” nos dias atuais. “As ilustrações em cartoon foram a arma secreta dos livros”, avalia.
“A leitura deveria ser algo divertido para as crianças – se não for, vão pensar que ler não é para elas e irão se dedicar a outra coisa. Então, é realmente importante que uma criança se conecte com um livro que a impacta da forma correta. Acredito que o humor é uma maneira ótima de cativar uma criança.”
É por isso que o escritor adora ouvir crianças contarem que começaram a ler por causa de seus livros, e que agora se propõem a ler obras maiores.
“Espero que meus livros coloquem as crianças em um caminho para se tornar leitores para a vida toda.”
Uma das características da série está na construção do protagonista como um personagem que falha: com vontade de ser ‘descolado’ e impressionar os colegas de classe, Greg acaba machucando algumas pessoas no caminho – como, por exemplo, seu melhor amigo, Rowley.
Ainda que muitos protagonistas da literatura infanto-juvenil sejam heroicos ou aspiracionais, quando Kinney criou o Greg, queria fazer um personagem mais parecido com ele quando estava crescendo.
“Eu queria segurar um espelho diante do que seria uma vida comum de crianças. Penso no Greg como se ele fosse, de certa forma, um comediante de stand-up. A razão para os comediantes serem engraçados é porque eles contam verdades embaraçosas sobre eles mesmos – e sobre nós. Greg dá voz às crianças que estão tentando se encontrar”, finaliza.
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