Espetáculo “Infância” estreia no Ágora Teatro

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Idealizado pelo ator Ney Piacentini e pelo contrabaixista Alexandre Rosa, o espetáculo “Infância” estreia nova temporada em São Paulo, no Ágora Teatro.

“Infância” foi indicado ao Prêmio Shell na categoria melhor música em 2023 . O espetáculo é inspirado no livro homônimo e autobiográfico de Graciliano Ramos (1892-1953) e nasceu a partir de uma viagem pelo sertão de Pernambuco e do Alagoas, quando os dois amigos foram procurar os locais mencionados na obra.

Durante o percurso, Ney Piacentini e o contrabaixista Alexandre Rosa visitaram as cidades de Quebrangulo, Viçosa, Palmeira dos Índios (AL) e Buíque (PE), entrando em contato com os moradores locais.

De acordo com Ney Piacentini, “vivenciamos a aridez e a pulsação da gente do sertão e da Zona da Mata nordestinos”.

Os idealizadores da peça estruturaram uma transcrição cênica e musical do livro. No texto, Piacentini priorizou a falta de trato familiar, a precariedade do ambiente escolar e as dificuldades sofridas por Graciliano Ramos no letramento.

“O menino apresentado nessas memórias reflete o Brasil, com suas dificuldades educacionais e suas violências institucionais em plena virada do século 19 para o 20, e que tem reflexos até hoje”, reflete o ator.

Já para criar a sonoridade e compor a trilha da peça, Alexandre Rosa se inspirou em Villa-Lobos, Francisco Mignone e Almeida Prado

“E cada instrumento tem seus temas: o violão está ligado ao pai, a viola caipira à mãe, o violino à irmã mais nova e o contrabaixo à irmã mais velha. Por outro lado, os instrumentos indianos, usados normalmente para se emitir mantras, aparecem em Infância quando o protagonista está falando de livros e de escola”, explica o músico.

Após as apresentações, ocorre uma conversa sobre o universo de Graciliano Ramos e o seu papel na história e na literatura brasileiras, enquanto os artistas compartilham parte do seu processo criativo.

“Queremos estimular a leitura e a formação de público na conjugação entre literatura, teatro e música. E, em um tempo dominado pela rapidez das redes sociais, ter a chance de nos deixarmos tocar pela poética de Ramos, que é, sem dúvida, transformador: para nós que nos aventuramos a fazer arte, e para o público que pode, conosco, dividir as incertezas de nossas existências”, finaliza Ney Piacentini.