“Bonitinha, Mas Ordinária” volta ao cartaz

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O premiado diretor Nelson Baskerville retoma um dos textos mais clássicos de Nelson Rodrigues (1912–1980) para criar um espelho cruel da sociedade brasileira contemporânea. Em “Otto Lara Resende ou Bonitinha, Mas ordinária ou no Brasil Todo Mundo é Peixoto”, o encenador transforma a tragédia rodrigueana em uma distopia social, marcada pela degradação moral e pela crítica à hipocrisia de um país dividido entre aparência e corrupção. O espetáculo volta ao cartaz em 6 de novembro de 2025, no Teatro do Núcleo Experimental.

O elenco traz Afonso Bispo Jr, Alexandre Mahgno de Castro, Carol Rainatto, Davi Parizotti, Duda Paiva, Filipe Barral, Isa Scoralick, Júlia Castanheiro, Juliana Roberta, Lauro Fagundes, Leonardo Van der Neut, Luciana Marcon, Lia Bennatti, Marcio Araujo, Maria Estela Modena, Naiara de Castro, Nelson Fioque, Sabrina Larisse e Thayse Vecchi.

Em um cenário sufocante, dominado por pneus e estruturas de borracha, a narrativa acompanha Edgard, homem pobre e dedicado que vê sua moralidade testada ao receber do patrão Werneck uma proposta tentadora: casar-se com Maria Cecília, jovem rica e “bonitinha”, mas envolta em um passado controverso. Dividido entre o dinheiro e a ética transmitida por seu pai, Edgard mergulha em um universo de desejos reprimidos, traições e valores distorcidos.

A encenação expõe, com ironia e brutalidade, as contradições da sociedade brasileira, amplificadas pelo avanço recente da extrema-direita, que, segundo o diretor, “ficou disfarçada por muitos anos”. Para representar essa sociedade corrompida pelo poder e pela aparência, o espetáculo traz em cena figuras mascaradas com sacolas plásticas de supermercado, vestidas com figurinos manchados de lama, uma imagem simbólica da sujeira moral e do consumo como disfarce.

A trilha sonora ao vivo mistura composições de Astor Piazzolla (“Vuelvo al Sur” e “Adios Nonino”) a músicas populares brasileiras de artistas como Roberto Carlos e José Augusto, criando um contraste entre o lirismo melódico e a sordidez das ações em cena.

Com estética radical e crítica social afiada, a montagem de Baskerville reforça a potência atemporal de Nelson Rodrigues ao revelar o que há de mais perturbador — e reconhecível — no Brasil de hoje.

Os ingressos para “Otto Lara Resende ou Bonitinha, Mas ordinária ou no Brasil Todo Mundo é Peixoto” estão disponíveis neste link.