O Dia Nacional do Sommelier, comemorado em 29 de agosto, é uma data para homenagear e valorizar os profissionais especialistas em vinhos, que são os responsáveis por fazer da experiência de beber uma taça um ritual de prazer e conhecimento.
O dia marca, ainda, uma conquista importante: a regulamentação da profissão de sommelier no Brasil, em 2011.
De origem francesa, a palavra ‘sommelier’ é usada desde a Idade Média, no cotidiano das cortes europeias.
Naquele momento, designava o responsável pelos animais de carga que transportavam mantimentos e bebidas nas viagens da nobreza.
Mas, ao longo do século 19, o crescimento da rede de restaurantes em Paris e da cultura gastronômica francesa levou o termo a ser empregado para falar do profissional que se ocupava da seleção, armazenamento e todo o serviço relacionado aos vinhos nesses lugares.
De acordo com a Associação Brasileira de Sommeliers, o sommelier é o trabalhador responsável pelas bebidas, principalmente vinho, em diferentes estabelecimentos, como restaurantes, bares, lojas e importadoras.
Atualmente, essa figura ganhou notoriedade, ligada à valorização da experiência gastronômica.
Além disso, o sucesso da vinicultura no Brasil trouxe o crescimento e a procura por esses profissionais, que sabem tudo do mundo dos vinhos.
Em comemoração ao Dia Nacional do Sommelier, o Viva a Cidade, conversou com dois profissionais renomados, que falam sobre seu ofício e sua importância na enogastronomia, a arte de harmonizar vinhos e alimentos numa mesma refeição.
Thamirys Schneider é sommelière do Grupo Wine. | Foto: Divulgação
Thamirys Schneider
Além de ser sommelière do Grupo Wine, Thamirys Schneider é produtora de conteúdo da Revista Wine e está à frente do Wine Verso Podcast.
Com sólida formação, ela se destaca pela certificação Wine & Spirit Education Trust Level 2 Award in Wines, que atesta seu amplo conhecimento no setor.
Ela também é responsável por criar harmonizações dos clubes de vinhos da Wine e conduzir treinamentos e degustações. Conheça a profissional:
Como você começou na profissão de sommelier?
Sempre fui curiosa quando o assunto era vinho, gostava de estudar, saber a região de origem, conhecer a história por detrás do rótulo.
Talvez essa curiosidade tenha sido alimentada pela minha formação em Geografia, o que molda, com certeza, o meu olhar para o lugar de uma forma mais expansiva, querendo entender as características geográficas, sociais, econômicas e culturais.
Tudo isso sempre me chamou muito a atenção nos vinhos, e antes mesmo de eu começar a trabalhar com isso, eu já queria saber mais do que estava bebendo.
Um combinado de fatores me guiaram para que hoje eu pudesse dizer que sou uma sommelière, mas essa virada de chave aconteceu mesmo foi durante a pandemia, quando comecei a trabalhar na Wine e pude me aprofundar nos estudos técnicos de fato, especializando-me no produto que sempre foi minha paixão.
E cá estou, cinco anos depois, comunicando um produto que amo, e buscando cada vez mais conhecimento sobre o assunto.
Quais são os diferenciais de um bom sommelier?
Acredito que todo mundo pode fazer uma formação técnica para se tornar sommelier, pode estudar como um entusiasta, que quer aprender mais sobre o universo do vinho, fazer isso para si, crescer em experiência e conhecimento.
Todavia, para trabalhar como sommelier é necessário ir além dos estudos, é preciso ter feeling, algumas soft skills, como uma boa relação interpessoal, comunicação gentil e assertiva, empatia, flexibilidade, aprendizado contínuo e saber trabalhar em equipe. São esses pontos que mais envolvem o que diferencia um sommelier.
É importante conhecer a bebida e o perfil do cliente para entender qual vinho pode ser direcionado àquela pessoa.
Saber apreciar o momento de uma descoberta de um vinho excepcional conta muito, e perceber que esse vinho, além de sua análise técnica, tem camadas culturais, ambientais e geográficas que ajudam a construir a narrativa e a percepção do produto, um conjunto de informações que pode ser explorada na camada do marketing e business.
Diferenciais como a gestão de serviços e pessoas, habilidade para fazer harmonizações com alimentos, um bom atendimento ao cliente, a capacidade de comunicar o produto de forma assertiva e ‘traduzida’ para o público em potencial: tudo isso ajuda a lapidar um bom e uma boa profissional sommelier.
Mas, gostaria de incluir também a camada do sensível, que vai além do estudo técnico.
Faz diferença se permitir e sentir, adotar o olhar de “só sei que nada sei”, parafraseando Sócrates, já que todo vinho tem ‘algo a dizer’, pois cada prova é única e cada análise é singular.
Até porque o consumo do vinho tem um lado afetivo, tem aquele que marcou, por ter sido apreciado em boa companhia, em um momento feliz, ou em uma viagem inesquecível.
Tudo isso pode interferir na experiência. Então, é preciso entender isso não só para si, mas também, mais uma vez, na relação interpessoal com o cliente, que vai informar alguma história do tipo e solicitar este vinho específico, ou algum produto semelhante.
Qual a dica você pode dar para quem deseja ser um sommelier?
Degustar é diferente de beber. Tem hora para tudo, claro. Podemos beber vinho com amigos ao embalo de boas risadas, num momento de descontração. Todavia, trabalhar com vinho requer atenção, portanto, não é só beber, é sobre degustar, prestar atenção.
Então, uma dica: preste atenção no que você está bebendo, avalie, compare, mas com a mente aberta, desapegando-se do contrarrótulo, entendendo o líquido para, assim, avaliá-lo. Assim, além de entender o vinho nas camadas técnicas, vai saber melhor como comunicá-lo e direcioná-lo.
E estude. Não sabemos de tudo, e nem temos como saber. O mercado do vinho muda, as tendências mudam, assim como o perfil de cliente e as técnicas de produção, que se atualizam, mesmo em denominações tradicionais.
Também há o surgimento de novas regiões produtoras, a redescoberta de uvas que estavam ‘esquecidas’ e produzem vinhos incríveis. Enfim, é bom ampliar o vocabulário vínico e estar disposto a conhecer novos rótulos, projetos, vinícolas e regiões produtoras.
Você poderia indicar 5 vinhos nacionais que se destacam, na sua opinião?
Prefiro indicar um rótulo apenas, mas que conheço muito bem, porque faz parte do portfólio que trabalho no dia a dia. É a linha de vinhos brasileiros Entre Dois Mundos, marca autoral do Grupo Wine em parceria com a Miolo.
A linha permite explorar rótulos produzidos em duas regiões do Brasil, no Nordeste (Bahia) e no Sul (Rio Grande do Sul). O rótulo Maraví Moscatel, em especial, é uma grata surpresa a cada gole.
O espumante, elaborado no Vale do São Francisco, tem aromas de frutas cítricas e flores brancas. No paladar, tem um dulçor muito leve e equilibrado, e transmite muita refrescância.
Esse espumante é elaborado com a uva Moscatel, muito comum no Brasil e bem aceito. Tem uma perfeita harmonia de sabores, em que o açúcar residual não sobra, não cansa e não enjoa. É um vinho leve, vibrante, refrescante e muito equilibrado, para sair do óbvio.
Inclusive, é uma opção que agrada até quem não é muito fã de espumantes com maior dulçor, justamente por sua acidez estar tão bem integrada com a doçura. Surpreende os mais diversos paladares, sendo muito versátil, também, para harmonizações.
Garrafas de vinhos Maraví, da Entre Dois Mundos. | Foto: Reprodução/Instagram
Qual seria um bom lugar para comemorar o Dia do Sommelier em São Paulo?
Recomendo o restaurante Rico Parrilla, na Vila Nova Conceição, onde é possível conhecer rótulos como: Susana Balbo Brioso, Ramón Bilbao Crianza, Ramón Bilbao Reserva, Ventisquero Grey Cabernet Sauvignon, Ventisquero Oblíqua Carménère e Escudo Rojo Cabernet Sauvignon.
Outro espaço que também é uma boa pedida para conhecer é a churrascaria Barbacoa D&D, que fica na avenida das Nações Unidas, 12.555. Lá, os fãs de vinho têm a oportunidade de apreciar rótulos como: Clos de Los Siete, Portulli, T.H. Terroir Hunter e Síbaris.
Raphael Zanette é especialista em vinhos, fundador da Vino! | Foto: Divulgação
Raphael Zanette
Fundador da rede de wine bars Vino!, a maior do país, Raphael Zanette é especialista em vinhos.
Nesta conversa com o Viva a Cidade, ele conta como migrou do mercado financeiro para a enogastronomia, dá dicas sobre o que fazer para se tornar sommelier e fala dos diferenciais da profissão:
Como e por que você decidiu entrar no mercado de vinhos?
Venho do mercado financeiro, onde trabalhei por quase 10 anos. O vinho sempre foi um hobby para mim, algo de que eu gostava, estudava e bebia com frequência.
Chegou um momento em que eu estava um pouco cansado da rotina do mercado financeiro e decidi tirar um ano sabático, para estudar e me aprofundar mais no universo do vinho.
Durante esse período, surgiu a ideia de criar o Vino!, que começou como um bar de vinhos despretensioso. A intenção era ter um lugar para receber os amigos, e o negócio acabou crescendo e se tornando o que é hoje.
Na sua opinião, quais são os diferenciais de um bom sommelier?
O diferencial está em unir conhecimento técnico com empatia. Não basta apenas saber de onde vem o vinho ou como ele foi feito.
O bom sommelier é aquele que consegue traduzir esse conhecimento para o cliente de forma simples e acessível, sem impor, mas sim ajudando a criar uma experiência.
É alguém que transmite a paixão pelo vinho e que consegue tornar a bebida algo próximo, humano.
Que dicas você daria para quem deseja ser sommelier?
A principal dica é estudar muito, pois ser sommelier exige dedicação.
É importante provar a maior quantidade de vinhos possível, não se apegando apenas aos caros, mas incluindo também os mais simples.
É fundamental ter humildade, porque sempre há algo novo para aprender. Vale a pena conversar com outros profissionais, visitar vinícolas e manter a mente aberta.
Na sua opinião, quais são os cinco melhores vinhos nacionais?
É difícil escolher apenas cinco, mas vou citar alguns rótulos brasileiros que aprecio muito e que mostram a diversidade e a qualidade da nossa produção: o primeiro é o Galópolis, um vinho da casa do Vino!, Cabernet Sauvignon da Serra Gaúcha, versátil e fácil de beber.
Outra indicação é o Santalu Rosé, parte da linha Curadoria do Vino!, este rosé da Serra Gaúcha é um corte das uvas Syrah e Merlot, jovem e refrescante
Cito também o Mula Preta Chardonnay, um vinho branco seco fino, com caráter marcante e elegância, o Espumante Vino!, exclusivo da casa, uma verdadeira celebração em garrafa, e o 817m Syrah, um tinto encorpado, com taninos macios e cerca de 13% de álcool. É um vinho de altitude, equilibrado e elegante, que acompanha bem carnes vermelhas, queijos curados ou massas com molhos intensos.
Garrada do vinho Galópolis, um dos destaques do Vino! | Foto: Reprodução/Instagram
Você poderia sugerir bons lugares em São Paulo para comemorar o Dia do Sommelier?
Para comemorar o Dia do Sommelier, obviamente, indico o Vino!. É um lugar onde você pode provar vinhos de excelente qualidade, tanto nacionais quanto importados, em um ambiente descontraído e sem formalidades.
É um espaço para celebrar, aprender e, claro, beber um bom vinho.
Sommeliers fazem degustação de vinhos em uma adega. | Foto: iStock
Onde aprender?
Conhecimentos em enologia, viticultura, harmonização, técnica de serviços e análise sensorial fazem parte da formação de um sommelier.
Conheça seis escolas renomadas em São Paulo, que oferecem cursos para quem deseja ser um sommelier profissional e para os leigos apaixonado por vinhos, que querem saber mais sobre o assunto:
1. Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-SP)
Fundada em 1989, a ABS-SP a unidade é filiada à Association de la Sommellerie Internationale (ASI) e conta com uma agenda ampla de cursos voltados à formação profissional de sommeliers.
São direcionados a quem já trabalha ou pretende trabalhar no mercado de vinhos, emas também oferece opções para leigos, enófilos amadores e amantes do vinho em geral, que desejam iniciar ou ampliar seus conhecimentos sobre vinhos.
Os cursos acontecem na sede da entidade, tanto em São Paulo quanto nas outras regionais da associação, e são ministrados por instrutores experientes e qualificados, que contam com recursos modernos, para as aulas práticas e teóricas. A agenda de cursos da ABS-SP está disponível aqui.
Além das formações, a unidade da ABS da capital paulista Paulo também promove degustações.
2. Senac-SP
O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-SP) oferece um curso livre de sommelier, com foco na área de gastronomia e alimentação.
O curso “Formação de Sommelier: vinhos”, oferecido em diversas unidades do da entidade, é voltado para quem quer começar na área, profissionalmente ou não.
O Senac também conta com diversos cursos rápidos sobre degustação, análise sensorial de bebidas, conhecimentos básicos em vinhos, cervejas e chás, além de outras opções voltadas para a área de alimentos e bebidas.
Mais informações podem ser encontradas aqui.
3. Le Cordon Bleu
Presente em mais de 20 países, com 35 escolas internacionais, a escola Le Cordon Bleu – São Paulo oferece um programa de estudos sobre vinhos e bebidas, voltado a profissionais e iniciantes.
Os cursos que tratam de destilados e vinhos têm vários módulos, que vão da iniciação, harmonização de vinhos e alimentos, até a gestão de negócios de vinhos, combinando teoria com o aprendizado prático. Veja todos os detalhes neste link.
4. Del Vino Wine Club
A Del Vino é um clube que reúne amantes do vinho e pessoas que têm vontade de aprender mais sobre o mundo.
O clube oferece cursos de vinhos para iniciantes, focados na experiência, promove eventos corporativos, presenciais e online, realiza experiências com degustação e harmonização na prática, que acontecem em restaurantes selecionados, na cidade de São Paulo. Conheça as opções aqui.
5. Ciclo das Vinhas
É uma escola de vinhos independente, que funciona desde 2007. Os cursos são realizados em turmas pequenas e voltados para alunos de todos os níveis de conhecimento.
Quem ministra as aulas é Alexandra Corvo, proprietária da casa e sommelière, com formação na Espanha e Suíça. Ela é conhecida por sua metodologia única de ensino, que alia técnicas de degustação, sensibilização e experiências criativas. A agenda de cursos pode ser consultada neste link.
6. The Wine School
Oferece os cursos oficiais da escola inglesa Wine & Spirit Education Trust (WSET) e do Wine Scholar Guild (WSG), sobre vinhos e destilados.
Também tem cursos próprios, voltados a alunos de diversos níveis de conhecimento no assunto.
A escola foi fundada no Chile, pelo professor Eugenio Echeverria, e chegou no Brasil em 2007. Em 2019, foi adquirida pelo grupo VSX Brasil.
Conheça aqui todos os cursos oferecidos pela The Wine School.
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