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Última modificação novembro 13, 2025

Musicais celebram cantores que marcaram época

Artistas como Norma Bengell, Ney Matogrosso, Nara Leão e Tim Maia são homenageados em produções em cartaz

Tim Maia Vale Tudo – O Musical Foto: Stephan Solon

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    A arte teatral sempre foi usada como veículo para contar histórias de personalidades que mudaram os rumos da História.

    Na Antiguidade, ainda que adaptadas da mitologia, as tragédias gregas eram narrativas que refletiam o passado heroico daquela civilização.

    Durante a Renascença, Shakespeare escreveu peças históricas, contando momentos decisivos na vida de monarcas britânicos ou de imperadores romanos.

    Na modernidade, Bertolt Brecht se valeu do embate entre Galileu Galilei e a Santa Inquisição para falar sobre o poder libertador da informação.

    Como se vê, uma tendência do teatro musical, de se aventurar pelo gênero biográfico, não apareceu à toa.

    Um dos musicais mais famosos da Broadway, “Funny Girl” (1964) relembra a trajetória da comediante Fanny Brice e seu início no show business.

    No Brasil, musicais como “Arena conta Zumbi” (1965) e “Arena conta Tiradentes” (1967), ambos com conteúdo político, marcaram época ao se posicionarem contra o autoritarismo.

    Atualmente, a variedade de artistas da música é um prato cheio para o teatro musical: histórias de vida e de canções são materiais usados para criar novos espetáculos.

    Na cidade de São Paulo, há quatro musicais biográficos em cartaz, que homenageiam grandes nomes da música (e também do próprio teatro!). São espetáculos para todos os gostos, desde grandes produções a monólogos e peças gratuitas. Saiba quais são esses espetáculos:

    Norma Bengell, o Brasil em revista

    Em uma brincadeira metalinguística, a atriz Norma Bengell interrompe o empresário de um teatro de revista, que anunciava um espetáculo sobre a vida dela.

    Do diálogo entre Norma e o dono do teatro, vão brotando cenas, músicas, trechos de diálogos, de filmes e peças, que formam o quebra-cabeça de uma vida pessoal e artística marcada por coragem, talento e coerência. A trajetória da atriz se confunde com a do Brasil.

    Nascida no Rio de Janeiro, Norma Bengell (1935-2013) é considerada uma das maiores musas do teatro e do cinema brasileiros, tendo gravado 64 filmes durante sua carreira.

    Ela começou a se dedicar à profissão em 1954, graças ao produtor Carlos Machado, atuando em “Fantasia e Fantasias”, uma peça de teatro de revista.

    Nos anos 1960, Norma também enveredou pelo mundo da música, cantando em shows de Tom Jobim, João Gilberto, Vinicius de Moraes e Roberto Menescal.

    O maior reconhecimento do trabalho da atriz veio quando ela interpretou a prostituta Marli, em “O Pagador de Promessas” (1962), filme de Anselmo Duarte premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

    Depois disso, Norma mergulhou de vez no cinema nacional e, nos anos 1990, ao se tornar diretora, começou a lutar pelo renascimento da nossa produção cinematográfica. 

    Toda essa trajetória é narrada na peça que está em cartaz no Teatro do Sesi, no Centro Cultural Fiesp. Dirigido por Aimar Labaki e com direção musical de Gustavo Kurlat, o espetáculo foi idealizado por Alexandre Brazil e conta com Amanda Acosta no papel de Norma – a atriz também interpretou Bibi Ferreira e Carmen Miranda em outros musicais biográficos. 

    Teatro do Sesi – Centro Cultural Fiesp
    Onde: Av. Paulista, 1.313, Bela Vista
    Telefone: (11) 3322-0050 | Instagram: @centroculturalfiesp
    Quando: de quinta a sábado, às 20h | domingo, às 19h (até 21 de dezembro)

    Ney Matogrosso – Homem com H

    Com texto de Emílio Boechat e Marilia Toledo, o musical explora momentos e canções marcantes na trajetória de Ney Matogrosso, sem seguir necessariamente uma ordem cronológica.

    A história começa em um show do grupo Secos & Molhados, em plena ditadura militar, quando uma pessoa da plateia xinga o cantor de “viado”.

    A partir desse incidente, outros episódios se encadeiam na narrativa, que se funde com momentos da infância e da adolescência do artista.

    No decorrer do espetáculo, as canções apresentadas se encaixam no contexto de cada cena, enquanto as letras dialogam com momentos da vida de Ney Matogrosso.

    A direção musical da peça é de Daniel Rocha, e a direção geral é resultado de uma parceria entre Marilia e Fernanda Chamma.

    No palco, o camaleônico Ney Matogrosso é vivido por Renan Mattos, que apresenta ao público essa figura tão importante para a cultura brasileira. Por esse trabalho, o ator venceu o “Prêmio Bibi Ferreira” e o “Prêmio Destaque Imprensa Digital – DID 2022”, além de ter sido indicado ao APCA, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte.

    O musical ainda aborda a questão da liberdade, tema cada vez mais relevante para a realidade brasileira, cercada de preconceitos e intolerância. 

    Teatro Porto
    Onde: Al. Barão de Piracicaba, 740, Campos Elíseos
    Telefone: (11) 3366 - 8700 | Instagram: @teatroporto
    Quando: sexta e sábado, às 20h | domingo, às 17h (até 07 de dezembro)

    Os Olhos de Nara Leão

    Esta homenagem é fruto de um arrebatamento causado pela cantora na atriz Zezé Polessa, que dá vida a Nara Leão (1942-1989) nos palcos.

    O resultado é o monólogo escrito e dirigido por Miguel Falabella, parceiro de Zezé em diversos projetos teatrais. Nele, Nara está em cena como se tivesse vindo de algum lugar do passado, para compartilhar com o público suas lembranças e reflexões.

    O texto, construído em fluxo de consciência, relembra momentos da vida e canções da artista, sem seguir uma cronologia formal – um reflexo da liberdade de Nara como artista e mulher.

    “Os Olhos de Nara Leão” traz de volta a artista, com suas memórias e sucessos, como “A Banda”, “Diz que fui por aí”, “Corcovado” e “Marcha da Quarta-feira de Cinzas”.

    Ao longo das cenas, surgem temas como a repressão militar, o exílio, o avanço do feminismo, as revoluções comportamentais das décadas de 1960 e 1970, a maternidade e os relacionamentos da cantora.

    Nascida em Vitória (ES), Nara Leão é um ícone dos anos 1960, 1970 e 1980, fundamental para a compreensão da cena musical, da cultura e da sociedade brasileira desse período.

    Ela protagonizou movimentos como a Bossa Nova e a Tropicália, e entoou canções de protesto contra a ditadura.

    Suas atitudes pioneiras e revolucionárias se refletem em um repertório singular, que revela seu compromisso profundo com a liberdade. 

    O espetáculo chega à capital paulista 60 anos depois do “Show Opinião” (1964), que tinha a artista no elenco, dirigido por Augusto Boal e produzido pelo Teatro de Arena.

    Teatro Renaissance – Hotel Renaissance
    Onde: Al. Santos, 2.233, Jardim Paulista
    Telefone: (11) 3069-2286 | Instagram: @teatrorenaissance
    Quando: sexta-feira, às 21h | sábado, às 19h | domingo, às 17h (até 21 de dezembro)

    Tim Maia – Vale Tudo

    Apresentado pela primeira vez em 2012, o espetáculo conquistou o público e a crítica, tornando-se um dos maiores sucessos do teatro musical brasileiro.

    A nova versão atualiza a linguagem da montagem, sem deixar de lado hits de Tim Maia, como “Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)”, “Azul da Cor do Mar”, “Vale Tudo, “Gostava Tanto de Você” e “Acenda o Farol”.

    Adaptação do livro “Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia”, escrito por Nelson Motta, o musical percorre a trajetória de Tim Maia (interpretado por Thór Junior), desde a juventude, no Rio de Janeiro, até a consagração como um dos grandes nomes da música brasileira.

    A peça também retrata as amizades do cantor com Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Elis Regina, e Jorge Ben. A direção musical é assinada por Carlos Bauzys e Diego Salles, enquanto a direção geral fica a cargo de Pedro Brício.

    Teatro Claro Mais SP – Shopping Vila Olímpia
    Onde: R. Olimpíadas, 360 - Vila Olímpia
    Telefone: (11) 3448-5061 | Instagram: @teatroclaromaissp
    Quando: Quinta e sexta às 20h | Sábado às 16h e 20h | Domingo às 15h e 19h (até 30 de novembro)
    

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    Pedro A. Duarte

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    Formado em Jornalismo pela FAAP. Especialista em Jornalismo Científico pelo Labjor Unicamp.