Solo de Zezé Motta chega ao CCBB

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Após temporadas de sucesso com sessões esgotadas em Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) São Paulo recebe o espetáculo “Vou Fazer de Mim um Mundo”, primeiro monólogo da carreira da atriz e cantora Zezé Motta, uma das artistas mais consagradas da cena brasileira.

Com adaptação e direção de Elissandro de Aquino, a montagem é inspirada no clássico “Eu Sei Por Que o Pássaro Canta na Gaiola” (I Know Why the Caged Bird Sings), de Maya Angelou, lançado em 1969 e considerado uma das obras mais importantes da literatura afro-americana. O texto traça um retrato poético e comovente da comunidade negra dos Estados Unidos durante a era da segregação racial, entre as décadas de 1930 e 1940.

No palco, Zezé Motta empresta sua voz e presença cênica para dar vida à força e à sensibilidade da autora, transformando a palavra falada em ato político e espiritual. O espetáculo propõe uma reflexão sobre identidade, resistência e ancestralidade, num formato intimista em que a palavra é celebrada como instrumento de cura e transformação.

O cenário, criado por Claudio Partes, traz uma poética plantação de algodão, nuvens suspensas e um livro do qual brotam as palavras recitadas por Zezé Motta. A iluminação é assinada por Aurélio de Simoni, que compõe atmosferas que evocam memórias e afetos. O figurino de Margo Margot, em tons de amarelo, remete à doçura e força de Oxum, orixá de Zezé.

Em cena, os músicos Mila Moura e Pedro Leal David acompanham a atriz com arranjos inspirados no blues e em suas variações, misturados a sonoridades brasileiras de Dorival Caymmi, Luiz Melodia, Milton Nascimento, Dona Clementina de Jesus, Johnny Alf, Luiz Gonzaga e Seu Jorge.

A montagem marca o retorno de Zezé Motta aos palcos após dez anos, celebrando também seus 80 anos de vida e quase seis décadas de carreira. Símbolo de resistência e representatividade, Zezé é cantora, atriz e militante, com mais de 100 personagens no cinema e na TV, 14 discos gravados e uma trajetória que inclui apresentações em palcos históricos como o Carnegie Hall (Nova York) e o Olympia (Paris).

Fundadora do Movimento Negro Unificado (MNU), Zezé faz de “Vou Fazer de Mim um Mundo” um tributo à sua própria jornada e à de tantas mulheres negras que transformaram dor em arte e luta em poesia.

“Zezé pertence àquela categoria rara de atrizes que sentem profundamente cada palavra. Aqui, ela nos convida a refletir sobre as feridas e as curas que a palavra pode abrir — e fechar”, define o diretor Elissandro de Aquino.

O espetáculo encerra com uma nota de alegria — não a do riso fácil, mas a da gratidão e da continuidade, reafirmando que o legado dos ancestrais vive na arte e na presença de quem ousa transformar o mundo a partir de si.

Haverá audiodescrição na sessão do dia 01/11, sábado.

Os ingressos são liberados na sexta-feira da semana anterior de cada semana, às 12h e podem em bb.com.br/cultura e na bilheteria do CCBB São Paulo.