Voltar Arte
Última modificação setembro 12, 2025

Maurício Sanches encena “Amor Assassino”

Em entrevista ao Viva a Cidade, o ator e produtor comenta sobre o espetáculo no Parlapatões e o teatro no Brasil

Perfil jornalista
Maurício Sanches - Amor Assassino

Cadastre-se na Newsletter

    Em cartaz no Espaço Parlapatões, o espetáculo “Amor Assassino” é inspirado na vida e obra de João do Rio (pseudônimo de Paulo Barreto, 1881–1921), autor considerado pioneiro da crônica-reportagem e eleito, ainda jovem, para a Academia Brasileira de Letras.

    Figura singular e ousada de seu tempo, João do Rio se tornou um dos jornalistas e escritores mais influentes do início do século 20, alcançando prestígio em uma época marcada por fortes barreiras sociais e preconceitos profundamente arraigados na sociedade brasileira.

    Com direção de André Corrêa e produção de Mauricio Sanches, que também atua na montagem sob o nome artístico Mauricio Constantino, “Amor Assassino” aproxima a narrativa do autor carioca da estética do dramaturgo, poeta e encenador alemão Bertolt Brecht (1898-1956). O espetáculo utiliza o conceito de gestus social como recurso central, destacando as relações de poder entre diferentes classes, tema recorrente na obra de João do Rio. No teatro brechtiano, o gestus social é o conjunto de gestos, posturas, expressões, entonações e atitudes que revelam as relações sociais, políticas e as condições humanas de uma personagem em cena.

    Em entrevista ao Viva a Cidade, o ator e produtor Mauricio define o espetáculo como “um convite para o público refletir, de forma crítica e distanciada, sobre as dinâmicas sociais, as desigualdades e a forma como o poder e o dinheiro moldam nossas relações humanas”.

    Maurício Sanches - Amor Assassino

    A peça é dividida em oito blocos, cada um inspirado em diferentes contos. Constantino atua em dois deles: em “A Suicida do Trem”, interpreta um jogador compulsivo que aposta em cassinos e corridas no Jockey Club; já em “O Homem da Cabeça de Papelão”, dá vida ao dono de uma fábrica de caixas, que, após demitir um funcionário, reencontra-o anos depois como deputado federal e tenta reaproximar-se em busca de vantagens pessoais.

    O teatro sempre foi uma paixão para Mauricio. Na juventude, participou de montagens amadoras e chegou a atuar em um espetáculo com o Grupo Tapa. No entanto, acabou deixando os palcos diante da resistência da família, especialmente do pai, que costumava dizer que “teatro não dá dinheiro”. “Ele estava certo”, admite, com humor. Diante disso, seguiu outro caminho: formou-se em Administração, fez mestrado em Inovação na Inglaterra e construiu uma carreira internacional em grandes empresas, viajando por diversos países.

    Depois de 35 anos afastado, voltou a atuar em “Amor Assassino”. O convite partiu da amiga Claudia Batocchio, que contracena com ele no esquete “A Suicida do Trem”.

    Maurício Sanches - Amor Assassino

    Hoje, Sanches concilia o teatro com sua vida profissional e como sócio-fundador da Editora Salor, que também apoia o espetáculo.

    “É possível conciliar, mas o teatro é, acima de tudo, paixão. Todos que estão em “Amor Assassino” participam por amor à arte”, destaca.

    Quinze atores compõem o elenco, sendo profissionais apenas alguns deles.

    “O ator e a atriz são, antes de tudo, contadores de histórias. Diferente da televisão, em que a fama e o cachê muitas vezes prevalecem, o teatro é entrega. É fazer porque se ama a arte de representar, a experiência de viver alguém que não é você. O palco permite essa transformação”, completa.

    Apesar dos desafios, Sanches vê o teatro brasileiro em plena retomada:

    “A pandemia deu um baque enorme. Houve tentativas online, mas nada substitui o encontro ao vivo, que emociona e transforma. Em 2024, o teatro voltou com força. Hoje, em São Paulo, no Rio e em tantas outras cidades, há uma efervescência de espetáculos, de gente talentosa produzindo e de público voltando às salas.”

    “Amor Assassino” segue em cartaz aos sábados no Espaço Parlapatões, na Praça Roosevelt, até 11 de outubro: em setembro às 18h e, em outubro, às 20h.

    Perfil jornalista

    Ernesto Lopes

    10 publicações

    Formado em Jornalismo, tem experiência em assessoria de imprensa, redação e jornalismo digital