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Última modificação maio 26, 2025

Dietas da moda: entenda os riscos e o que funciona

Rotina alimentar com muitas restrições pode ter resultado passageiro ou efeito contrário na perda de peso

Dietas da moda Dietas para perda de peso podem colocar a saúde em risco. | Foto: iStock

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    A promessa de resultados rápidos na perda de peso é tão sedutora, que inúmeras dietas e cardápios alguns muito restritivos ficam famosos na internet e viralizam nas redes sociais, geralmente promovidos por influenciadores, artistas e celebridades.

    Siglas como NiME, DASH, MIND, Noom e FMD, além das palavras cetogênica, detox, cortisol e flexitariana, que dão nome a algumas das dietas que estão em alta no momento, já entraram para o vocabulário de muita gente e movimentam o ‘mercado’ do emagrecimento, tanto na vida real quanto no ambiente digital.

    Algumas dessas propostas já foram objetos de estudos de universidades e instituições de saúde, mas a maioria ainda carece de respaldo científico, com investigações mais robustas, que comprovem sua segurança e eficácia.

    Pensar apenas no emagrecimento e na estética corporal, seguindo dietas radicais, com cortes drásticos na alimentação e regras inflexíveis, pode colocar a saúde em risco. Além disso, esse tipo de regime alimentar dificilmente se sustenta a longo prazo e, em alguns casos, o resultado acaba sendo bem diferente do esperado

    Mas, com tanta informação disponível, pode ser difícil diferenciar o que é uma boa dica para uma rotina saudável do que é apenas uma tendência passageira, difundida com o objetivo de atrair mais audiência nas redes ou vender algum tipo de produto.

    Por isso, o Viva a Cidade entrevistou o nutricionista Gabriel Moliterne, pós-graduando em nutrição clínica, avaliação, epidemiologia e intervenção pelo Hospital Albert Sabin de São Paulo (HAS), que esclarece as principais dúvidas sobre o assunto.

    Conheça as ‘dietas da moda’

    Dietas da moda

    Legumes, hortaliças, frutas e carnes magras são a base das dietas. | Foto: Aamulya / iStock

    1. Detox de Cortisol

    Essa dieta ganhou popularidade ao alegar que o estresse crônico aumenta os níveis de cortisol, hormônio esteroide produzido pelas glândulas suprarrenais, que está envolvido na regulação do metabolismo, na resposta inflamatória do organismo e na função imunológica. O estresse dificultaria o emagrecimento, sendo preciso ‘desintoxicar’ o corpo por meio de dietas específicas. Apesar da importância de manejar o estresse, essa proposta é baseada em conceitos pouco fundamentados na ciência. Muitas vezes, envolve restrições exageradas e práticas sem comprovação clínica confiável, o que pode ser prejudicial à saúde.

    2. Dieta Cetogênica

    É uma rotina alimentar caracterizada pela redução drástica do consumo de carboidratos e pelo aumento do consumo de gorduras e proteínas. Com isso, o corpo é induzido a entrar em um estado metabólico chamado cetose, em que passa a utilizar a gordura como principal fonte de energia, em vez da glicose. Neste estado, o fígado começa a produzir corpos cetônicos a partir da gordura, que são utilizados como fonte de energia, especialmente pelo cérebro.

    3. Dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension)

    Foi criada com o objetivo de controlar a hipertensão e, por isso, tem forte respaldo científico. É baseada no consumo de frutas, verduras, cereais integrais, leguminosas, laticínios com baixo teor de gordura e na redução do sódio na alimentação. Além de ser eficaz na prevenção do diabetes tipo 2 e de doenças cardíacas, é frequentemente recomendada por sociedades médicas.

    4. Dieta FMD (Fasting Mimicking Diet)

    É um plano alimentar de cinco dias consecutivos, pobre em proteínas e carboidratos, mas rico em gorduras saudáveis, e que restringe muito a ingestão calórica. A ideia é ‘enganar’ o corpo, para estimular processos celulares que costumam ocorrer durante um jejum prolongado, mas sem que seja preciso parar completamente de comer. Com a indução controlada da ‘fome’, o organismo realiza a autofagia (reparo celular) e a regeneração celular, reduz a inflamação, otimiza a função imunológica e o emagrecimento.

    5. Dieta Flexitariana

    Essa proposta combina elementos da alimentação vegetariana, com a possibilidade de consumo ocasional de carnes magras, o que faz dela uma alternativa equilibrada para quem deseja diminuir o consumo de proteína animal, sem eliminá-la completamente. A dieta flexitariana é considerada mais fácil de manter a longo prazo, e tem sido associada à redução do colesterol, à melhora do perfil glicêmico e a um menor risco de doenças crônicas.

    6. Dieta NiME (The Non-industrialised Microbiome Restore Diet)

    É uma abordagem que prioriza alimentos vegetais integrais não processados, cultivados em hortas e vendidos em lojas especializadas em produtos orgânicos. A proposta é reduzir o consumo de carnes e excluir do cardápio os ultraprocessados (ricos em calorias e açúcar). Ela é inspirada na dieta alimentar da população da ilha Papua-Nova Guiné, na Oceania, e pode ser benéfica para a saúde do coração, do intestino e das articulações.

    7. Dieta Mediterrânea

    É uma das mais estudadas e bem fundamentadas, baseada no padrão alimentar tradicional de países como Grécia e Itália. Ela prioriza o consumo de vegetais, frutas, azeite de oliva, grãos integrais, oleaginosas, peixes e frutos do mar, reduzindo a ingestão de carnes vermelhas, laticínios e doces. Diversas pesquisas indicam que esse modelo de alimentação ajuda a diminuir o risco de doenças cardiovasculares, melhora a saúde metabólica e está associado à maior longevidade.

    8. Dieta MIND (Mediterranean-DASH Intervention for Neurodegenerative Delay)

    Uma combinação das dietas mediterrânea e DASH, a dieta MIND foca na saúde cerebral. Ela prioriza alimentos que protegem contra o declínio cognitivo, como frutas vermelhas, folhas verdes, peixes, azeite de oliva e grãos integrais. Pesquisas iniciais apontam benefícios promissores na prevenção de doenças como Alzheimer e demência, embora ainda sejam necessários estudos de longo prazo para confirmar esses efeitos.

    9. Dieta Noom

    Noom é o nome de um aplicativo de saúde por assinatura para smartfone, que combina o registro e acompanhamento das refeições e exercícios com personal trainer (remoto), para apoiar o usuário a fazer e manter mudanças de comportamento, para ter um estilo de vida mais saudável. O app propõe o programa Peso Saudável, baseado na quantidade de calorias dos alimentos e em dados como idade, sexo e meta de emagrecimento. Essa dieta incentiva o consumo de produtos de baixo teor calórico, como vegetais frescos e proteínas magras.

    Riscos das dietas da moda

    Gabriel Moliterne diz que os padrões alimentares das dietas Mediterrânea, DASH, MIND e flexitariana oferecem benefícios duradouros para a saúde, o que é sustentado por evidências científicas robustas.

    Já as abordagens extremamente restritivas costumam proporcionar apenas resultados temporários, e podem acarretar riscos significativos à saúde.

    Temos que ter cuidado com dietas da moda, pois algumas são muito restritivas, prometem perda de peso rápida, e quase sempre excluem grupos inteiros de alimentos,  como carboidratos, laticínios ou frutas, o que pode prejudicar a saúde. Muitas não consideram individualidades do organismo e não têm base científica sólida. Outras, como o ‘detox de cortisol’, apelam para modismos e conceitos mal explicados, sem comprovação em estudos sérios com seres humanos”, alerta.

    Segundo o nutricionista, seguir esse tipo de dieta sem ter o apoio de um profissional pode causar diversos problemas à saúde, como a falta de nutrientes importantes, o desequilíbrio hormonal, a fadiga, a perda de massa muscular e até alterações emocionais, como ansiedade ou compulsão alimentar.

    “Além disso, dietas restritivas podem ser gatilhos para transtornos alimentares e gerar uma relação doentia com a comida”, complementa. 

    O acompanhamento profissional é fundamental para garantir que a alimentação ajude — e não prejudique — a saúde.

    Se a pessoa já tentou várias dietas sem sucesso, sente culpa ao comer, tem sintomas como cansaço extremo, tontura, intestino preso, queda de cabelo ou alterações no sono e no humor, já passou da hora de procurar um profissional. Também é essencial buscar orientação se houver alguma condição de saúde, como diabetes, hipertensão, alterações hormonais, uso de medicamentos, etc.”, completa.

     Resultados temporários

    Moliterne afirma que, nos casos em que essas dietas têm algum resultado positivo, ele tende a ser temporário. 

    “A pessoa até pode perder peso rapidamente, mas o corpo responde a essas restrições com um efeito rebote: o metabolismo desacelera, o apetite aumenta e o peso perdido costuma voltar — muitas vezes até com um ganho adicional. Isso é o famoso ‘efeito sanfona’. Em longo prazo, essas dietas causam mais frustração do que benefícios”, destaca.

     De acordo com o nutricionista, a melhor forma de não ‘cair em ciladas’ é evitar dietas que garantem resultados milagrosos. 

    “Uma dieta saudável não promete milagre. Ela respeita a individualidade, inclui todos os grupos alimentares, valoriza alimentos naturais, é equilibrada e possível de ser mantida no dia a dia. Não deve causar sofrimento, culpa ou medo de comer. Também precisa ter respaldo científico, ou seja, ser baseada em estudos sérios, atualizados, que comprovem sua segurança e seus benefícios à saúde”, explica.

    Alimentação e saúde mental 

    O profissional reforça que a alimentação tem impacto direto na saúde emocional e, por isso, a escolha de um plano alimentar saudável e balanceado é fundamental.

    ” Comer bem não é só sobre o corpo, mas também sobre o cérebro. Dietas equilibradas, como a Mediterrânea, ricas em nutrientes como ômega-3, vitaminas do complexo B, antioxidantes e fibras, ajudam a reduzir sintomas de ansiedade, estresse e até depressão. Já dietas muito restritivas ou baseadas em ultraprocessados podem ter o efeito oposto, piorando o humor, o sono e o equilíbrio emocional”, alerta. 

    Dicas para uma alimentação saudável:

    O nutricionista esclarece que, para obter bons resultados de forma saudável e segura, o primeiro passo é abandonar os atalhos.

    “Emagrecer com saúde leva tempo e exige consistência, não pressa. Meu conselho hoje é: busque a ajuda de um profissional capacitado, que entenda sua rotina, histórico de saúde e objetivos. Foque em mudanças reais: melhorar a qualidade dos alimentos, mexer o corpo, cuidar do sono, beber mais água e aprender a comer com prazer, sem culpa. A melhor dieta é aquela que você consegue manter, que respeita seu corpo e que traz leveza, não sofrimento”, aconselha o especialista.

    Ele diz que o caminho mais seguro e eficaz para melhorar a alimentação envolve mudanças de comportamento graduais e a adoção de uma rotina alimentar equilibrada, que possa ser mantida a longo prazo.

    “A alimentação adequada contribui não apenas para a saúde física, mas também para o bem-estar mental e qualidade de vida, demonstrando a importância da nutrição”, conclui.

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    Stefany Leandro

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    Stefany Leandro é jornalista e editora-chefe do Viva a Cidade.