Gregorio Duvivier estreia “O Céu da Língua”

Espetáculo é uma comédia sobre a presença quase invisível da poesia no nosso cotidiano

Gregorio Duvivier - O Céu da Língua Foto: Joana Calejo Pires

Informações

  • Data de inicio e término

    01 maio até 25 maio

  • Dias da semana e horários

    Quinta a sábado, às 19h | Domingo, às 16h

  • Endereço

    Rua Rui Barbosa, 153 - Bela Vista

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  • Valores

    R$ 140,00 (Plateia) | R$ 100,00 (Balcão)

Mais detalhes

Quem tem medo de poesia? Gregorio Duvivier não faz parte deste grupo e usa seu discurso sedutor para mostrar que esse assunto pode ser prazeroso e divertido no solo “O Céu da Língua”. O espetáculo, que estreou em Portugal e já passou pelo Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre, agora desembarca em São Paulo para uma temporada no Teatro Sérgio Cardoso.

Essa comédia poética estreou em Lisboa no contexto das comemorações ao aniversário de 500 anos de Luis de Camões e roubou a cena por lá. Gregorio Duvivier, que não estreava uma peça nova há cinco anos, fez essa peça para homenagear sua língua-mãe.

E, ao fazer isso, encontrou uma legião de pessoas que compartilham dessa paixão. “A poesia é uma fonte de humor involuntário, motivo de chacota”, reconhece o ator, que cursou a faculdade de Letras na PUC do Rio de Janeiro e publicou três livros sobre o gênero literário.

“Escrevi uma peça que pode ajudar alguém a enxergar melhor o que os poetas querem dizer e, pra isso, a gente precisa trocar os óculos de leitura.”

A direção é da atriz Luciana Paes, que já foi parceira de Duvivier no espetáculo de improvisação “Portátil” e nos vídeos do canal Porta dos Fundos. Se no seu solo anterior, “Sísifo” (2019), escrito junto com Vinicius Calderoni, Gregorio subia uma grande rampa dezenas de vezes, agora, o que se tem é uma encenação desprovida de qualquer cenário.

No palco, totalmente limpo, o instrumentista Pedro Aune cria ambientação musical com o seu contrabaixo, e a designer Theodora Duvivier, irmã do comediante, manipula as projeções exibidas ao fundo da cena. O resto é só o comediante e sua devoção pelas palavras.

“Acredito que ele tem ideias para jogar no mundo e, com essa crença, a coisa me move independentemente de qualquer rótulo”, diz Luciana, uma das fundadoras da celebrada Cia. Hiato, que estreia na função de diretora teatral.

O “Céu da Língua” não é um recital, mas não deixa de ser poética. “O stand-up comedy aqui é uma pegadinha pra falar de literatura”, como descreve a diretora. “A peça fica na esquina do poema com a piada”, arremata o ator.

“O Gregorio comediante está no palco ao lado do Gregorio intelectual com seu fluxo de pensamento ininterrupto e, por isso, a plateia embarca na proposta”, explica a diretora, que compartilha com o ator a paixão pelo nome das coisas.

“Graças aos seus recursos de ator, ele pega o público distraído. Ninguém resiste quando é surpreendido por alguém apaixonado.”

O humorista, desde a infância, carrega uma obsessão pela palavra, pela comunicação verbal, pela língua portuguesa. Assim, o protagonista brinca com códigos, como aqueles que, em sua maioria, só são decifrados por pais e filhos ou casais enamorados.

As reformas ortográficas que tiram letras de circulação e derrubam acentos capazes de alterar o sentido das palavras inspiram o artista em tiradas bem-humoradas. O mesmo acontece quando ele comenta a ressurreição de palavras esquecidas, como “irado”, “sinistro” e “brutal”, que voltaram ressignificadas ao vocabulário dos jovens. E aquelas que só de ouvi-las geram sensações estranhas, a exemplo de afta, íngua, seborreia, ou outras, inventadas, repetidas à exaustão, como “atravessamento”, “disruptivo” ou “briefings”? Até destas, extrai humor.

Para o artista, a língua é algo que nos une, nos move, mas raramente damos atenção a ela. É só pensar nas metáforas usadas no cotidiano – “batata da perna”, “céu da boca”, “pisando em ovos”. Nesta hora, usamos a poesia e nem percebemos. Para provar que a poesia é popular, Gregório chama atenção para os grandes letristas da música brasileira, como Orestes Barbosa e Caetano Veloso, citados através das canções “Chão de Estrelas” (1937) e “Livros” (1997).

“A massa ainda há de comer o biscoito fino que fabrico”, disse Oswald de Andrade. Infelizmente a literatura no Brasil nunca encheu estádios. Mas a palavra cantada, essa sim, ganhou multidões. “Foi a nossa música popular quem conseguiu realizar o sonho oswaldiano de levar poesia para as massas”, festeja o ator.

Nesta cumplicidade com a plateia, Duvivier mostra gradativamente que a poesia não tem nada de hermética e que a nossa língua não deve nada a nenhuma outra. Muito pelo contrário. Temos um manancial de poesia desperdiçada em cada conversa jogada fora.

“Minha pátria é a língua portuguesa”, diz Fernando Pessoa. Caetano continua: “e eu não tenho pátria, eu tenho mátria e quero frátria”. Gregorio constrói o espetáculo em torno dessa fraternidade, e nos lembra que, apesar de todas as nossas diferenças, temos uma língua em comum que nos irmana. E também pode nos fazer gargalhar.

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