A busca por um corpo magro é uma preocupação constante para muitas pessoas. No entanto, dietas restritivas e a prática intensa de exercícios físicos nem sempre são eficazes para a perda de peso e sua manutenção a longo prazo, levando ao indesejado ‘efeito sanfona’.
Os medicamentos feitos com semaglutida, como o Ozempic, que foram criados para o tratamento de diabetes, tornaram-se boas opções para combater a obesidade com eficiência, porque realmente apresentam bons resultados. Mas têm sido cada vez mais usados em casos que não se caracterizam como obesidade, nem como sobrepeso.
Celebridades e pessoas comuns que desejam ter um corpo mais magro, com um ou dois quilos a menos, estão nesse grupo e ajudam a popularizar as ‘canetas emagrecedoras’ como uma solução rápida ou de curto prazo, em substituição às dietas balanceadas, baseadas na alimentação saudável.

Jovens não obesos estão recorrendo às canetas emagrecedoras. Foto: Kamran Aydinov / Freepik
A “dieta da moda” é, hoje, graças às redes sociais, o uso sem orientação e controle de Ozempic, Mounjaro, Wegovy e Rybelsus. Nessas redes, é possível encontrar vídeos, posts e comentários falando sobre o uso e os ‘efeitos mágicos’ das canetinhas.
Entretanto, como qualquer outro medicamento, a semaglutida também apresenta riscos e tem efeitos colaterais. Mesmo sendo considerado um medicamento seguro, é importante lembrar que, ao usá-lo de forma indiscriminada, assume-se o risco de sofrer consequências bem graves.
O que é a Semaglutida?
A semaglutida é um medicamento que imita a ação do hormônio GLP-1, produzido naturalmente pelo pâncreas.
A GLP-1 ajuda a regular o nível de açúcar no sangue e a aumentar a sensação de saciedade. Por isso, é usada para tratar a diabetes tipo 2 e, recentemente, também para ajudar na perda de peso.
O uso desmedido destes medicamentos e sem recomendação prévia é desaconselhado pela classe médica. Segundo José Afonso Sallet, médico especializado no tratamento da obesidade e em doenças metabólicas, os produtos à base de semaglutida devem ser usados para controle de diabetes e tratamento para obesidade.
A indicação é para pacientes que têm obesidade grau 1, mas sem indicação para fazer a cirúrgica bariátrica. O médico, que também é diretor do Instituto Sallet, de São Paulo, afirma que esses medicamentos não devem ser utilizados em pacientes que não tem nenhum grau de obesidade, pacientes portadores de diabetes tipo 1, mulheres grávidas, pacientes com problemas de tireoide e menores de idade.
Além da semaglutida, existem medicamentos feitos com outras substâncias, que têm efeitos semelhantes. É o caso do Mounjaro (tirzepatida), Victoza e Saxenda (liraglutida), que podem ser vendidos nas farmácias diretamente no balcão, sem retenção de receita médica.
Esses produtos também estão disponíveis no formato de canetas e podem ser comprados por qualquer pessoa, mesmo que não seja diabética.
O especialista confirma que o Ozempic, o Wegovy e o Mounjaro são eficazes para o emagrecimento. “De todos os remédios que já tivemos acesso até agora, o Ozempic se mostra muito eficiente para perda de peso. Isso acontece porque esse hormônio, além de diminuir a resistência à insulina, ajuda no controle do apetite. Assim, temos um controle da diabetes e, como consequência, emagrecimento certo de 15% do peso”.
No entanto, o Dr. Sallet explica que eles só são indicados para pacientes que tenham algum grau de obesidade. “São remédios feitos para uma tratar uma doença. Quando são usados para estética, podem trazer diversos malefícios para a saúde”, explica.

Pessoa faz autoaplicação de medicamento à base de semaglutida. Foto: Reprodução
O médico alerta que o uso indiscriminado destes medicamentos preocupa, porque pode ter diversos efeitos colaterais, como dores abdominais, hipoglicemia, vômitos e tontura.
“Temos percebido também alguns casos graves de pancreatite aguda e de obstrução intestinal. Essa é uma medicação, e o uso sempre deve ter o acompanhamento de uma equipe especializada”, destaca.
Segundo o profissional, o paciente pode passar a sofrer crises de hipoglicemia, que é a diminuição da glicose o sangue. Essas crises podem gerar confusão mental, desmaios, convulsões e muita fraqueza.
Além desse quadro, no processo de emagrecimento, o paciente pode perder massa muscular, o que piora a fraqueza. Outra coisa que pode acontecer é a flacidez no corpo, que pode gerar desejo por outros tratamentos estéticos.
Veja as diferenças entre os medicamentos




Medicina e estética
Na busca por um corpo perfeito, as pessoas costumam buscar soluções rápidas, mas nem sempre sabem dos riscos para a saúde.
Para o Dr. Sallet, essa relação entre medicina e estética é muito complexa, ainda mais quando se trata de perda de peso. “Acredito que a ideia inicial era melhorar a qualidade de vida das pessoas e proporcionar tratamentos minimamente invasivos”, fala.
A obesidade é uma doença crônica, sem cura, mas com tratamento. “A promessa de um tratamento meramente estético não resolve a raiz do problema, e pode criar diversos outros . Além disso, pacientes que não são portadores da doença podem se prejudicar permanente com o uso de tratamentos para obesidade”, alerta o profissional.
Ele completa: “O risco que o paciente corre ao realizar procedimentos em lugares não regulamentados é muito alto. Existe o perigo de infecções, de erros graves, que podem ser permanentes, e da piora do estado mental do paciente.”
Medicamentos como Ozempic, Wegovy e Mounjaro são indicados para: portadores de diabetes tipo 2; pacientes com sobrepeso ou com obesidade grau 1 (sem indicação cirúrgica); pacientes com indicação cirúrgica ou a tratamentos endoscópicos; pessoas que sofreram reganho de peso após a bariátrica; ou para maximizar tratamentos endoscópicos.
Para o tratamento ser seguro, ele diz que é fundamental contar com uma equipe transdisciplinar, com endocrinologista, nutricionista, psicólogo e preparador físico. E o uso dos medicamentos não acaba com a necessidade de ter uma alimentação adequada e de praticar atividades físicas.
Afinal, existe uma solução segura para emagrecer?

Alimentação natural e prática de esportes: receita para a perda de peso sem medicamentos. | Foto: Reprodução
De acordo com o Dr. Sallet, a resposta é sim: “Emagrecer não é uma tarefa fácil. Costumo dizer que, na teoria, é só fechar a boca e malhar, mas não é tão simples assim. Emagrecer é um processo árduo, para o qual não existe caminho fácil”, afirma.
O especialista reforça que a forma mais segura para emagrecer é com o acompanhamento de uma equipe transdisciplinar, que vai contribuir para mudanças de comportamento e para que o emagrecimento perdure. “Tomem cuidado, sempre procurem um médico, e não usem remédios sem indicação”, finaliza.
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