Castelões: mais antiga cantina e pizzaria do Brasil

Casa já recebeu personalidades e foi palco da comemorações de grandes momentos históricos.

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Se foi no Brás que começou a história da imigração italiana na cidade de São Paulo, não poderia ser em outro lugar que a pizzaria mais antiga da capital paulista, que completa 100 anos em 2024, estivesse. O endereço e a fidelidade às receitas são a marca registrada desse sucesso que, desde a inauguração, é comandada pela família Donato.

Fábio, a terceira geração a gerir o negócio, mantém as tradições do avô e, para além da decoração que remete às pizzarias mais antigas e das cerca de 1.500 pizzas vendidas por mês, também recebe as celebridades que passam por lá.

No “Livro de Ouro”, onde estão registradas as principais delas, nomes como Hebe Camargo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Juan Fangio, Tito Schipa e muitos políticos e jogadores de futebol ilustram o centenário da Castelões.

Essa jornada, que começou com Vicente Donato, brasileiro e filho de italianos, e mais um amigo, teve origem por conta de uma paixão nacional: o futebol. Juntos de um grupo de funcionários de uma indústria da região, Vicente e Ettore Siniscalchi se reuniam após as partidas amadoras para comerem alguma coisa.

As especialidades, como berinjela, frango à passarinho e bisteca alla fiorentina, começaram a dar vez às pizzas, usando de inspiração a base da napolitana, mas depois acabaram criando uma outra vertente, hoje conhecida como paulistana, um estilo que ganhou força com uma cobertura diferenciada, além de outros sabores, como muçarela e aliche.

De origem italiana, respectivamente Calábria e Nápoles, a dupla passou a servir a massa e o grupo de amigos cresceu, com novos integrantes que vinham saborear esse sucesso que começava a nascer.

Donato e Siniscalchi trataram, então, de construir um forno à lenha. O primeiro não deu certo, mas o segundo, já grande o suficiente para servir muitas pessoas, ficou perfeito. O pedreiro, de tão envolvido com a obra, se tornou o primeiro pizzaiolo dos Castelões.

Os anos passaram, a parceria prosperou e, em 1935, os sócios adquiriram a casa ao lado para ampliar o negócio. Porém, nos anos 1950, Ettore Siniscalchi fez uma viagem ao Rio de Janeiro para assistir a um jogo de futebol do Palmeiras e naquele mesmo ano também assistiu a marcante derrota do Brasil no Maracanã durante a Copa do Mundo.

Em poucos dias se apaixonou pela cidade e não quis mais sair de lá, portanto resolveu vender sua parte na pizzaria para o sócio e mudar para a capital fluminense. Vicente, então, assumiu integralmente o negócio.

Um legado da família Donato

Vicente ficou à frente do negócio até 1987, quando faleceu, passando o bastão para o filho. João, a segunda geração a assumir a pizzaria, já trabalhava com o pai há mais de 20 anos e entendia não apenas de todo o funcionamento do restaurante, como também dos segredos das receitas.

Mantendo a tradição, ainda contou com a ajuda do filho, Fábio, que passou a integrar o negócio em 1988, aos 15 anos. E tal como tinha acontecido anos antes, Fábio também assumiu interinamente a Castelões quando o pai faleceu, em 2014.

Também, assim como seu progenitor, manteve as receitas, o endereço e o amor pela tradicional pizza italiana. Para manter o alto padrão de qualidade das massas, a família realizou uma busca incessante, de quase 15 anos, para importação da melhor máquina da Itália para bater a massa das pizzas, que chegou ao Brasil há pouco tempo, em setembro de 2023.

Porém, não são só as pizzas que se mantêm com a receita original. Os drinks servidos na Castelões também respeitam a história de origem. Para isso, Fábio está sempre muito envolvido com a cultura italiana, seja viajando ou vinculado às instituições que conservam e divulgam as tradições do país europeu.

Os sabores mais vendidos das pizzas também são os que compunham o cardápio de 100 anos atrás: calabresa, muçarela, marguerita, portuguesa, napolitana, quatro queijos e a castelões. Esta última, em específico, leva no recheio uma linguiça especial, preparada artesanalmente por eles. Embora seja especialidade da casa, o sabor já chegou a outras pizzarias de São Paulo; algumas, até, por meio de parcerias e homenagens a pizzaria que trouxe para o centro da cidade um cantinho especial da Itália.

Tradição e inovação

Embora mantendo-se fiel às tradições, a Castelões inova. Atualmente, quem está à frente dos preparos das massas é Claudia Pinho, companheira de Fábio. Apaixonada por gastronomia e especialista em pizza e culinária italiana, é ela quem toca a cozinha do restaurante.

Aos fins de semana, quando o movimento é maior, Donato assume o posto na forneria. Além de gerenciar o negócio, ele também participa como jurado de concursos de pizza. Para o futuro, os planos é um retrofit que levará o cliente aos primeiros anos da Castelões, com itens de decoração que remetem ao período de fundação, como as geladeiras de madeira.

Há outros planos na mente do casal que hoje está na liderança da pizzaria, mas a meta de entregar a melhor pizza, com ingredientes selecionados e bem temperada continua a mesma. Assim como novos sabores surgiram durante este centenário, Donato se mantém aberto às novidades, desde que siga um padrão de qualidade.

Afinal, como bom bisneto de italiano, Fábio segue com fervor a máxima que aprendeu: “não importa o lugar em que esteja na Itália, eles irão sempre servir o que há de melhor”. É o que a Castelões vem fazendo. E o que continuará, no que depender dele.

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