Peça “Otelo, o Outro” é destaque no Sesc Santana

Inspirada na obra de Franz Fanon, peça faz releitura do clássico Shakespeare.

Otelo, o Outro Crédito: Julieta Bachinn

Informações

  • Data de inicio e término

    30 ago até 08 set

  • Dias da semana e horários

    Sexta e sábado, às 20h | Domingo, às 18h

  • Endereço

    Av. Luiz Dumont Villares, 579 – Jardim São Paulo

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Mais detalhes

Em cartaz no Sesc Santana, o espetáculo “Otelo, o Outro” traz uma nova abordagem do clássico de William Shakespeare (1565 – 1616), ao ter como inspiração o pensamento do psiquiatra e filósofo Franz Fanon (1925 – 1961), narrando os efeitos da racialização da experiência humana. Desse modo, a distribuição desigual do afeto, e a constituição da subjetividade de maneira frágil e traumatizada são encenadas pelos atores Carlos de Niggro, Jefferson Matias e Kenan Bernardes, sob a direção de Miguel Rocha.

Partindo do protagonista da tragédia escrita por Shakespeare, a peça é uma potente reflexão poética sobre a identidade do sujeito negro em diáspora. “Otelo, o Outro” é, pois, uma viagem interna, um mergulho em si mesmo em que o personagem vai se estranhando.

Delírio, sonho ou pesadelo, essa viagem ou esse mergulho faz a personagem de Shakespeare encarar outros dois “Otelos” que o habitam e que o guiam num caminho tão intrincado quanto doloroso, que passa necessariamente por Desdêmona, mas percorre outras sendas, explorando ambiguidades e aporias da memória e da identidade afrodiaspóricas, marcadas pelo deslocamento social e cultural.

“Otelo, o Outro” representa um homem inventado como “negro” pelo olhar ocidental, um sujeito que se submete a esse olhar, tentando se integrar por inteiro – “de corpo e alma”, como se diz. O casamento com Desdêmona, uma mulher branca da elite, é a metáfora dessa entrega incondicional a um sistema de valores e a comportamentos que o estigmatizam como “o mouro”, ao mesmo tempo que se serve dele.

A cegueira do ciúme é uma alegoria dessa apaixonada adesão. Sua corporeidade, portanto, é o índice e o limite que o separa irrevogável e irreversivelmente desse “Ocidente” que ele deseja literalmente incorporar.

A releitura, porém, fala de uma consciência dividida que, aos poucos, mas não sem muita dor, vai percebendo a origem do conflito que a fustiga. Ela reflete também sobre os mecanismos que recalcam a ancestralidade inscrita no corpo, repugnada pela sociedade à qual o “mouro” aspira, caminhando para o desfecho trágico da morte, mas não da morte do corpo.

Nesta nova abordagem do espetáculo, orientada pelo pensamento de Frantz Fanon – autor de obras como “Pelo Negra, Máscaras Brancas” e “Os Condenados da Terra” -, Otelo se expõe à ruptura com o discurso que o inventa exatamente como “homem negro”, ao mesmo tempo que ele recusa qualquer forma de tutela de sua consciência, inclusive aquela que lhe nega até o direito de odiar.

Sem dar respostas, já que esse espetáculo procura mais provocar do que solucionar, “Otelo, o Outro” explora as contradições da própria consciência negra numa sociedade como a brasileira contemporânea. Sociedade hegemonizada pelo capitalismo neoliberal e pela indústria cultural pós-moderna, que sempre aspira ao “novo” sem enfrentar e superar o legado do escravismo colonial e de seu autoritarismo estruturante.

Entrada: R$ 60,00 (inteira), R$ 30,00 (meia) e R$ 18,00 (credencial plena)

Classificação: 16 anos

  • Acessível para cadeirantes
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  • Maiores de 16 anos

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